sexta-feira, 20 de março de 2015

Um certo Fred Astaire

Meu interesse por dança começou nos anos 60, de tanto ouvir minha mãe falar dos filmes de um tal Fred Astaire. Ela falava entusiasmada sobre esse ator/dançarino norte-americano de origem austríaca judaica.
Em 1966 eu ganhei como prêmio de melhor leitor do semestre, um vaucher para ir ao cinema todos os dias das férias de julho. Sem dúvida foi o melhor mês da minha vida. Aliás, meu amor pelo cinema também aconteceu nesse mesmo mês de julho.
No primeiro domingo das férias fui à matine, antiga sessão de cinema que acontecia à tarde e, para minha surpresa, o filme era Royal Wedding com Fred Astaire. Para mim, que então era uma criança, confesso que o filme era bem chato (quando adulto entendi melhor o roteiro) mas, o que me interessava era ver o tal Fred Astaire dançar. E foi mágico ver o que esse grande ator e dançarino conseguiu fazer utilizando apenas truques de posicionamentos de câmeras.
O mais incrível, é que ele não aceitava edição. Todas as cenas eram gravadas sem cortes, ou seja, eram necessárias horas e horas de exaustivos ensaios até atingir-se a perfeição.
Quando voltei para casa minha mãe e eu ficamos horas falando desse filme e ela falou sobre a grande parceira de Fred Astaire: Ginger Rogers.
Aprecie com moderação e, numa próxima oportunidade, falo um pouco mais sobre esse gênio musical e de sua grande parceira.

Abraços!

Engelmann

Ballet no Século XX

No iní­cio do século 20, as pes­soas come­ça­ram as se can­sar das ideias e prin­cí­pios do bal­let, con­forme Petipa, e bus­ca­vam novas ideias. O bal­let russo, nessa altura, já era mais famoso que o fran­cês e alguns bai­la­ri­nos já tinham fama inter­na­ci­o­nal. Uma das bailarinas mais famosas desse período era  Anna Pavlova.
Anna Pavlova como Gisele (1901)
Em 1909, Sergey Diaghilev levou o bal­let de volta para Paris, fun­dando a sua com­pa­nhia Ballets Russes. Faziam parte dela – Anna Pavlova, Tamara Karsavina, Adolph Bolm, Vitslav (Vaslav) Nijinsky, Vera Karalli. Mais tarde entra­riam: George Balanchine, Leonid Massine, Mikhail Fokin e Serge Lifar.
A estreia foi em 19 de Maio e obteve enorme êxito, prin­ci­pal­mente os homens, já que naquela época, tinham pra­ti­ca­mente desa­pa­re­cido dos pal­cos fran­ce­ses. Após a revo­lu­ção russa de 1917, a com­pa­nhia pas­sou a ser de emi­gran­tes e Diaghilev foi proi­bido de retor­nar para a Rússia.
Vaslav Nijinsky
 O Ballets Russes se apre­sen­tava, na maior parte, na Europa oci­den­tal, América do norte e sul. Eles esti­ve­ram em tem­po­rada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro entre 17 de Outubro e 1º de Novembro de 1913, e em 1917.
Anna Pavlova, que saiu do Ballet Russes um ano após a sua cri­a­ção, fun­dou sua pró­pria com­pa­nhia sedi­ada em Londres e veio ao Brasil em 1918, 1919 e em 1928.
Diaghilev começa uma par­ce­ria com o com­po­si­tor Igor Stravinsky, de onde sur­gi­ram qua­tro obras pri­mas: O Pássaro de Fogo (1910), Petrouchka (1911) – ambos com core­o­gra­fia de Mikhail Fokin,A Sagração da Primavera (1913), core­o­gra­fia de Nijinsky, e Pulcinella (1920), com core­o­gra­fia de Leonid Massine. Com exce­ção do último, são todos base­a­dos no fol­clore russo. A com­pa­nhia exis­tiu até a morte do seu fun­da­dor, em 1929.
A Sagração da Primavera

O ita­li­ano Enrico Cecchetti, após glo­ri­osa car­reira como pro­fes­sor e bai­la­rino na Rússia, foi o pro­fes­sor prin­ci­pal do Ballet Russes de 1910 até 1921. Em 1918 ele abriu sua escola em Londres, e em 1923 retor­nou para a Itália, tornando-se dire­tor da escola de bai­la­dos do Teatro La Scala. O crí­tico de bal­let Cyril Beaumont estu­dou o método Cechetti e, junto com Stanislas Idzikowsky, sin­te­ti­zou esse método no livro “Teoria e Prática da dança clás­sica tea­tral” (1922).
Vaganova foi aluna de Cecchetti e Petipa. Nos anos 20 e 30 do século XX, pas­sou a tra­ba­lhar um método pró­prio de ensino da dança clás­sica, mes­clando os conhe­ci­men­tos dos seus mes­tres, redigindo-o no livro “Fundamentos da Dança Clássica”. Em 1935, seguindo ordens gover­na­men­tais, Vaganova modi­fi­cou o final trá­gico do Lago dos Cisnes por um sublime.
A pres­são ide­o­ló­gica daque­les anos levou para a cri­a­ção de bal­lets com rea­lismo sovié­tico, den­tre eles pode­mos citar: Romeo e Julieta, com música de Prokofiev e core­o­gra­fia de Leonid Lavrovsky,Chamas de Paris, música de Boris Asafiev e core­o­gra­fia de Vasily Vainonen, A Fonte Bakhchisarai, música de Asafiev e core­o­gra­fia de Rostislav Zakharov, e Cinderela, música de Prokofiev e core­o­gra­fia de Zakharov.
Em 1933, pouco após a morte de Diaghilev, Lincoln Kirstein con­vida Balanchine para abrir uma escola de bal­let nos Estados Unidos, essa escola deu ori­gem à “Escola de Ballet Americano” de Nova York.
Muitos con­si­de­ram Balanchine como sendo o pri­meiro repre­sen­tante do cha­mado “Ballet Neo-clássico”. Um marco impor­tante da his­tó­ria é o seu bal­let Apollo, cri­ado ainda para o Ballet Russses na música de Stravinsky.
Nessa mesma época, em rea­ção aos limi­tes for­mais e seve­ros da dança clás­sica, acen­tu­ando a liber­dade e expres­são dos movi­men­tos, surge uma nova ten­dên­cia da dança, a Moderna. Ela sur­giu simul­ta­ne­a­mente nos Estados Unidos e Alemanha. Os pri­mei­ros gran­des repre­sen­tan­tes foram Loie Fuller, Isadora Duncan e Ruth St. Denis.
O pre­cur­sor dessa ideia de liber­dade em movi­mento pode ser con­si­de­rado o fran­cês Françoise Delsarte, quando, ainda no século XIX, cria a sua teo­ria de rela­ção entre o movi­mento humano e os sen­ti­men­tos: “sen­ti­men­tos e a sua inten­si­dade são a causa do movi­mento e a sua qualidade”.
Rudolph Labanc riou um novo sis­tema de aná­lise e escrita de movi­mento, con­si­de­rado o mais com­pleto de todos os tem­pos; a Kinetography, ou Labanotation.
Marta Graham surge com ideias ino­va­do­ras e, em 1926, funda a sua com­pa­nhia, a mais antiga com­pa­nhia de dança dos Estados Unidos. Pode-se dizer, figu­ra­ti­va­mente, que ela é a res­pon­sá­vel por tra­zer a arte da dança para o século XX. Dentre as suas ino­va­ções, a cons­ci­ên­cia de que a res­pi­ra­ção está dire­ta­mente ligada à expres­si­vi­dade do movi­mento e o tra­ba­lho com o chão.  Merce Cunnigham está entre os seus alunos.
Marta Graham

Na segunda metade do século XX, a alemã Pina Bausch tam­bém dá novos rumos para a dança, inclu­sive na maneira de criar/coreografar, tirando os movi­men­tos do coti­di­ano da his­tó­ria de vida de cada um dos seus alunos.
Por fim (não refe­rente à cro­no­lo­gia da his­tó­ria), a dança clás­sica e a dança con­tem­po­râ­nea pas­sam a inte­ra­gir. Nomes mar­can­tes que devem ser cita­dos são o de: Jirí Kylián, Mats Ek, William Fosrythe, Nacho Duato e Maurice Béjart.
A dança contemporânea surgiu na década de 1960, como uma forma de protesto ou rompimento com a cultura clássica. Depois de um período de intensas inovações e experimentações, que muitas vezes beiravam a total desconstrução da arte, finalmente - na década de 1980 - a dança contemporânea começou a se definir, desenvolvendo uma linguagem própria. Os movimentos rompem com os movimentos clássicos e os movimentos da dança moderna modifica o espaço, usando não só o palco como local de referência.
A dança contemporânea é uma explosão de movimentos e criações, o bailarino escreve no tempo e no espaço conforme surgem e ressurgem ideias e emoções. Os temas refletem a sociedade e a cultura nas quais estão inseridos, uma sociedade em mudança, são diversificados, abertos e pressupõem o diálogo entre o dançarino e o público numa interação entre sujeitos comunicativos. O corpo é mais livre, pois é dotado de maior autonomia.
A dança contemporânea é uma circulação de energia: ora explosiva, ora recolhida. A respiração, a alternância da tensão e do relaxamento em Martha Graham, o desequilíbrio e o jogo do corpo com a gravidade em D.Humphrey; E.Decroux faz trabalhar o diálogo da pele e do espaço retornando às origens do movimento.
Merce Cunningham

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A História do Ballet Clássico

O ballet começou na Itália, no período renascentista. Com a transição do pensamento medieval ao renascentista a sociedade ocidental começou a produzir manifestações culturais próprias, em que o homem passa a ser o centro de tudo, período que mais tarde foi chamado de etnocentrismo ou humanismo.

O ballet visto por todos os lados

Nessa época os nobres italianos divertiam seus ilustres visitantes com espetáculos de poesia, música, mímica e dança. Em Tortona, na Itália, no ano de 1489, Bergonzio di Botta orga­ni­zou uma festa core­o­grá­fica para come­mo­rar o casa­mento do gover­na­dor de Milão, Gian Galeazzo Sforza, com Isabella de Nápoles. Uma dança de nome Entrée dava ini­cio a cada parte da festa, e enquanto os con­vi­da­dos fes­te­ja­vam, era apre­sen­tada uma série de cenas core­o­grá­fi­cas cujo tema era rela­ci­o­nado ao motivo da come­mo­ra­ção: a gló­ria do amor con­ju­gal. Alguns historiadores con­si­de­ram este como sendo o pri­meiro espe­tá­culo de bal­let da história.

Catarina de Médici ao chegar à França para tornar-se rainha, vinda da Itália, berço do Renascimento, trouxe consigo artistas que já produziam óperas e balés de corte em seu país. Seu coreógrafo mais importante foi Baldassarino Belgioso, cujo nome artístico era Baltasar Beaujoyeux.

Em 1581na sala Le Petit-Bourbon, em Paris, foi apre­sen­tado “Le bal­let Comique de la Reine”  (O Balé Cômico da Rainha) coreografado por Balthazar de Beaujoyeulx. O bal­let durava mais de 5 horas e fazia parte das come­mo­ra­ções do casa­mento de Marguerite de Vaudemont com o Duque Anne (nome mas­cu­lino) Joyeuse. Ela era irmã da então rai­nha da França, Louise de Lorraine. Além de dan­ças, músi­cas e dra­ma­tur­gia, esse espe­tá­culo tinha falas.

Baltasar Beaujoyeux considerava a dança uma organização de desenhos geométricos construídos pelo grupo de pessoas em movimento, pois a coreografia era freqüentemente vista de cima, nas bancadas, balcões e camarotes, e o estilo da época era chamado de basse danse (dança baixa), constituída de passos rasteiros cadenciados e contados, evitando evoluções complexas e os saltos, até mesmo pelo vestuário e estilo nobre do século XVI.

 A Dança de Luiz XIV

No século XVII, o rei da França Luis XIV, denominava-se “Rei Sol”, por ter protagonizado, aos quinze anos, o papel de “rei sol” no Ballet de La Nuit, em 1653, primeiro dos vinte e seis balés que dançou como primeiro bailarino em seu reinado, só parando quando começou a envelhecer.

Nesse século, costumava-se oferecer muitas festas para a nobreza européia, cujos encontros apresentavam bailados dramatizados. O primeiro grande Maître de Ballet (mestre de dança) foi Charles-Louis-Pierre de Beauchamps. Ele foi responsável pela criação das cinco posições básicas dos pés no balé. Essas posições foram criadas com a intenção de manter o equilíbrio do corpo em movimento ou parado, e organizar a estética da dança. Beauchamps pessoalmente não deixou nada escrito ou publicado, porém seu trabalho foi passado mais tarde por seus discípulos Raoul-Auger Feuillet e André Lorin em publicações.

É importante ressaltar que os balés no século XVI eram de movimentos contidos, de passos baixos, por isso a criação e ordem das posições dos pés e as posturas dos braços.
O Ballet Comique de la Reine foi se desestruturando no reinado de Luis XIV, enquanto Beauchamps, Lully e Moliére vão desenvolvendo a “Ópera-balé” na Itália, e que anos depois Lully irá leva-la para a França e introduzir o balé de corte nos palcos dos teatros. Em 1661, o rei da França fundou a “Academia Real de Dança e de Música”, e em 1681, Lully começa a introduzir bailarinos profissionais em seus balés, e com isto o aprimoramento da técnica clássica. Beauchamps desenvolve passos como: o “entrechat” (um sobressalto que mais tarde vai ser acrescentadas batidas); o “grand jeté” (salto em comprimento).

O professor de dança (maître de ballet) Pierre Rameau, em 1725, publicou sistemas de dança que se baseava nos mesmos princípios de Beauchamps. Mas o Raoul-Auger Feuillet, discípulo de Beauchamps, apresenta quatrocentos e sessenta passos de ballet, entre eles, pliés, elevés, tombés, glissés, cabrioles, e ainda, giros, cadências e figuras do corpo, sem contar os piques, coupés e pas de bourrés. Delineando, também, os eixos perpendiculares para se movimentar e girar, sendo eles: frontal; dorsal; e lateral. É no Iluminismo que surge a dança clássica Virtuosa.

As 5 Posições de pés e braços

O “En Dehors” (para fora), aquela posição em que o bailarino apresenta-se com as cochas, joelhos e pés girados para fora da linha central do corpo, fazendo uma rotação externa da articulação coxo-femoral, foi criada quando o ballet de corte começou a ser levado para os palcos italianos, em que a platéia assistia ao espetáculo de frente, e não mais como nos salões reais, sobre as bancadas e camarotes, vendo-os de cima. Então para que o artista nunca se coloque de costas para o público, composto de nobres e convidados, cria-se esta posição aberta que ao dançar de uma diagonal a outra se evita ficar de costas para o público.

No começo todos os bailarinos eram homens, que também faziam os papéis femininos, mas no fim do século XVII, a Escola de Dança passou a formar bailarinas mulheres, que ganharam logo importância, apesar de terem seus movimentos ainda limitados pelos complicados figurinos.
Jean-Georges Noverre apresentou, em 1789, o primeiro balé que rompeu definitivamente com o estilo da ópera, o “Les Caprices de Galathée”: o “drama-balé-pantomima”. Noverre possuía uma doutrina de contestação aos balés anteriores. Para ele o balé deveria narrar uma ação dramática, ser natural e expressivo, utilizar a pantomima, e abolir as máscaras por esconder a expressão facial do bailarino. Aboliu também as enormes perucas “operescas” dos balés, mudando o comprimento do vestuário feminino para dar mais leveza e graciosidade aos movimentos. Sua preocupação era grande em relação à formação do bailarino, pois acreditavam que eles precisavam aprender diferentes áreas do conhecimento, para não se tornarem autômatos da dança.


 A busca do balé romântico no século XVIII é negar a força da gravidade, levando a utilização das sapatilhas de pontas pelas mulheres, cuja primeira bailarina a utiliza-la foi Maria Taglione, em 1826, e neste período do romantismo acontece o declínio da importância do bailarino em cena, pois sua função passa a ser de suporte para a bailarina brilhar com leveza e graciosidade.

No século XIX o balé clássico vai se aperfeiçoando de tal forma, que grandes escolas vão se consolidando na Rússia, Itália, França e Inglaterra. Ainda hoje, além desses países há também escolas ou técnicas desenvolvidas por Cuba, Estados Unidos, China e muitas outras, que adaptam técnicas clássicas e elementos da sua própria cultura visando a melhor performance técnica e a estética distinta do balé clássico.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O Sol da Meia Noite

Sempre fui apaixonado por dança. Quando criança ouvia minha mãe falar sobre os musicais de Hollywood e ela sempre citava Fred Astaire e Gene Kelly. Finalmente, aos 10 anos de idade, assisti Cantando na Chuva e fiquei fascinado. Tomei uma decisão: serei dançarino.
Depois de 10 anos ainda não havia seguido com minha decisão. Mas novamente fui hipnotizado pela dança: Os Embalos de Sábado a Noite. Dias depois comprei uma bota cor de vinho e achei que isso me transformaria em Tony Manero. Fui em muitas discotecas vestido a caráter e me sentia o máximo.
Em 1985 entrei num cinema para assistir O Sol da Meia Noite. Já era uma pessoa amadurecida e vi a dança com outros olhos – pura expressão artística. Sai do cinema decepcionado por nunca ter tentado concretizar minha decisão. Mas ficaram lições e o amor pela dança e é isso que contarei para vocês neste espaço. Será minha contribuição com as meninas do Educação em Dança, Carla e Camila. E sempre falarei sobre isso: a dança no cinema.



Eduardo Engelmann

Designer, artista plástico e apaixonado por dança.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Vem Dançar Conosco!


Educação em Dança quer conversar com você sobre a arte da dança clássica e também do jazz. Por isso criamos este espaço – a ideia é trazer informações não apenas sobre a arte de dançar, mas também oferecer dicas, relacionar eventos, listar filmes sobre o assunto, enfim, deixar o mundo da dança mais perto de você.

Para isso, contamos com a sua participação, sugestões e qualquer contribuição cultural que você possa dividir conosco e com todos que acessam este espaço.

Bem-vindo(a) ao nosso blog. Você faz parte desse universo.

Obrigada!

Camila e Carla